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Arquitetos: Carlos Castanheira
- Área: 374 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Fernando Guerra | FG+SG
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Fabricantes: - A. Sousa Alves, Revestimentos de Zinco e Cobre, Lda.
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Arquitetura é sempre transformação. De preferência para melhor. Mas nem sempre.
Já lá tinha estado, mas meramente para conhecer a Quinta de São Cosme. E um rochedo, num lugar estratégico e de ótimas vistas. Voltei lá. Queriam recuperar uma velha casa abandonada há muito.
Nem me lembrava da casa, pois a atenção foi toda desviada para a magnifico penedo de granito. A casa foi construída para habitação de caseiros. A construção era mista. O pedreiro - o que trabalha a pedra - era bom e as alvenarias de cantaria mostravam alguma qualidade. Já o mestre que trabalhou o betão deixou mostras de não dominar a arte.
O abandono é um mau mestre que rapidamente destrói o que está feito. O mau e mesmo o bom. Um pouco melhor estavam as construções de apoio à atividade agrícola, pois não estavam abandonadas e isso por si só, já é positivo.
O Cliente já é um conhecido, pois já fizemos outras obras. O programa era relativamente simples, mas com alguma complexidade. Esta complexidade era resultante da forte pendente e devido às várias construções existentes organizadas por patamares.
Logo tive a vontade de fazer uma casa ao contrário: Sala em cima e Quartos em baixo. No início houve apreensão a esta proposta. O projeto foi feito, discutido e de imediato se passou à execução. É assim que eu gosto e dá gosto.
A demolição trouxe agradáveis surpresas e outras menos. A cobertura – até aí escondida – era toda em madeira de eucalipto e estava bastante bem, pois não apresentava a presença de bicho nem de quaisquer fungos. Como é habitual em estruturas em eucalipto – madeira arrevesada – havia bastantes torções e rachas. É a madeira sempre a trabalhar.
No piso inferior – semienterrado – pouparam bastante nas fundações e foi necessário reinventá-las. Aproveitou-se para afundar um pouco, melhorando o pé-direito. A laje aligeirada era aligeirada em tudo. No ferro e até no betão. Bem aligeirada. Há que a reforçar e aqui e ali até a substituir.
Em cima, a estrutura da cobertura assentava sobre as quatro paredes periféricas. Assim, sem rodeios. As fenestrações satisfaziam a iluminação e a ventilação de acordo com a divisão que tinha sido decidida. Correspondiam às necessidades. Havia vestígios de aberturas e de encerramentos posteriores à construção. Possíveis correções e adaptações. Limpámos o que nos pareceu a mais e abrimos muito. É que as fenestrações não devem somente satisfazer as necessidades de iluminação e ventilação. Devem trazer o exterior para dentro. Pois gostaríamos de viver sempre lá fora.
Acrescentei um volume – o Quarto principal – e sobre este um Terraço diretamente ligado à Sala. Varandas e cobertos permitem o controle de luminosidade, assim como o controle da pluviosidade. Um túnel liga a Casa com o volume á cota inferior onde está a Lavandaria, Oficina, e o estacionamento dos automóveis. É, em boa verdade, a entrada de serviço da Casa e que faz a ligação a todos os pisos.
Recuperou-se e estabilizou-se a estrutura da cobertura. Acrescentámos alguns ferros melhorando ligações. Estabilizadores. Usámos madeira na estrutura do novo volume e nos cobertos. No teto, pisos e nas caixilharias também.
A Sala é um espaço amplo onde tudo acontece. Ou quase tudo. Cozinha, Sala, Circulação e até um pequeno Sanitário coabitam aquele espaço com um teto de quatro águas. Três Quartos em baixo. Os Banhos.
Melhorou-se a envolvente, pois agora a atividade agrícola já não está só. Refez-se a eira em frente aos Quartos. Calçada nos Pátios e Circulações. Tudo foi desenhado. Muito foi feito no local. Gosto assim. Todas as obras deveriam ser assim. Sem pareceres - sempre - negativos. Quando lá vamos parece-nos que já é assim há muito. A memória é bastante curta. Mas teve lugar uma grande transformação. Para melhor. Assim é que a Arquitetura deve ser.
Agora vamos tratar do penedo, pois parece que alguém lá quer fazer uma casa em cima.
Cucujães, 6 de Março de 2021
Carlos Castanheira.